Na última terça-feira, 8 de abril, o palco da Live Curitiba recebeu um dos shows mais aguardados pelos fãs de rock alternativo dos anos 2000: Incubus. Depois de 11 anos sem pisar em solo curitibano, a banda californiana voltou à cidade para uma apresentação única, parte da turnê que celebra os 24 anos do disco Morning View, e que também tem passado por outros países da América Latina.
Estar presente nesse momento, escrevendo esta cobertura, foi mais do que uma tarefa profissional — foi um reencontro pessoal com uma parte importante da minha juventude. Aqueles tempos de MTV, de clipes como Drive, Wish You Were Here e Pardon Me. Ver tudo isso ganhar vida em cima de um palco, com um som afiado, um público fiel e uma banda em ótima forma, foi um privilégio raro. E ao contrário do que muitos podem imaginar, não foi um show saudosista. Foi atual, forte, e com momentos inesperados — como as músicas que Curitiba teve a sorte de ouvir e que ficaram de fora do setlist no Chile dias antes.
Fila, expectativa e um reencontro com o passado
Cheguei na Live Curitiba por volta das 18h30, e já havia uma fila extensa. O público era majoritariamente formado por pessoas na faixa dos 30, 40 anos — fãs da década de 90 e início dos anos 2000, quando a banda viveu seu auge comercial. Poucos rostos muito jovens, o que já dava o tom de que aquela noite seria, para muitos, uma viagem pessoal no tempo.
O clima era tranquilo, mas de grande expectativa. Ao entrar na casa, o que chamou atenção de imediato foi a estrutura de palco. Painéis de LED, lasers, e uma iluminação bem desenhada criavam a atmosfera ideal para o show que estava por vir. Nada era exagerado. Era bonito, bem pensado, e combinava com a estética da banda.
Sem atrasos consideráveis, a banda subiu ao palco com Nice To Know You, e a plateia reagiu na hora. Os acordes iniciais, o beat característico e o vocal de Brandon Boyd imediatamente colocaram todos no clima certo. Estava claro que a noite seria dedicada a Morning View, o disco que catapultou o Incubus para um novo patamar e que marcou uma geração inteira.
Na sequência, vieram Circles e Wish You Were Here. A energia da plateia foi crescendo, mas o destaque, ao menos pra mim, foi perceber como a banda ainda encontra-se firme, mesmo após tantos anos. Nada parecia protocolar ou engessado. Era um show vivo, com espaço para improvisos e interações, principalmente da parte de Boyd, que em vários momentos conversou com os fãs e elogiou seus companheiros de banda.
Brandon Boyd impressionou. Não apenas pela presença de palco — que continua forte — mas pela entrega vocal. É claro que a idade chega para todos, e algumas músicas exigem adaptações, mas ele entregou o repertório com segurança, sem parecer que estava se esforçando demais para alcançar notas antigas.
Outro destaque da noite foi a baixista Nicole Row. Desde que entrou na banda, ela vem chamando atenção, e em Curitiba não foi diferente. Seus riffs deram corpo às músicas, e sua presença no palco era marcante, sem precisar competir por atenção. Na versão acústica de Blood On The Ground e na performance de Vitamin, ela mostrou porque é uma adição certeira à formação atual.
Curitiba teve sorte. No Chile, por exemplo, músicas como Anna Molly e Dig ficaram de fora. Aqui, foram incluídas — e muito bem recebidas. Anna Molly veio com força, reacendendo o público no final do show. Dig, mais lenta e emocional, foi um dos momentos em que se via gente cantando de olhos fechados.
A sequência acústica também foi um respiro necessário no meio da apresentação. 11AM, Mexico e a versão diferente de Blood On The Ground trouxeram um momento de intimidade, quase como se estivéssemos em um estúdio com a banda. Foi um contraste interessante com os lasers e os visuais de palco, mostrando a versatilidade da banda em transitar entre momentos épicos e outros mais contidos.
Outro ponto alto foi a releitura de In The Air Tonight, de Phil Collins, que já virou uma espécie de tradição nos shows do Incubus. Aqui, ela veio com força, acentuada pela bateria precisa de José Pasillas e o vocal denso de Boyd. Logo depois, a surpresa: Umbrella, da Rihanna, com uma introdução que levou direto para Under My Umbrella, em uma fusão inesperada, mas que funcionou.
Não era um show de greatest hits, mas o cuidado com o repertório deixou espaço para que cada fase da banda fosse representada de alguma forma. The Warmth, do álbum Make Yourself, foi outro desses momentos. Atmosférica, introspectiva, e ainda assim poderosa ao vivo.
Depois de mais de uma hora e meia de show, 20 músicas cravadas o encerramento veio com uma sequência pesada de sucessos: Sick Sad Little World, Pardon Me, e por fim, Drive. A última foi cantada por todos, de forma emocionante. Era nítido que muita gente ali esperava por aquele momento. Era quase uma cerimônia. A música mais conhecida da banda fechando a noite, com todo o peso emocional que ela carrega.
O saldo final foi de uma apresentação completa, respeitosa com a história da banda e com o público. Não teve exageros. Teve boa música, bons músicos, e uma plateia que sabia o que estava indo ver. Em tempos de modismos rápidos e sons descartáveis, ver uma banda como o Incubus ainda em atividade, entregando um show técnico e emocional ao mesmo tempo, é algo raro. E estar ali para cobrir isso, depois de tanto tempo ouvindo essas músicas de longe, foi uma experiência que valeu cada minuto.
A banda agora segue para São Paulo, onde se apresenta nesta quarta-feira, 10 de abril, no Espaço Unimed. Depois, a turnê continua pela América Latina, com passagem confirmada pelo Peru.
Curitiba ficou com um pedaço especial do Morning View Tour. E por tudo que vi e ouvi, foi mais do que um show — foi um reencontro com uma parte essencial da história do rock alternativo dos anos 2000, vivido em carne e osso.
Setlist – Curitiba, 8 de abril de 2025 – Live Curitiba
1.Nice to Know You
2.Circles
3.Wish You Were Here
4.Just a Phase
5.11AM
6.Blood On The Ground (acústica)
7.Mexico
8.Warning
9.Echo
10.Have You Ever
11.Are You In
12.In The Air Tonight (Phil Collins cover)
13.Under My Umbrella
14.Aqueous Transmission
15.Anna Molly
16.The Warmth
17.Sick, Sad…
18.Dig
19.Pardon Me
20.Drive
Fotos Fernanda Goularte