A Importância dos Sindicatos no Cenário Brasileiro Atual
No contexto brasileiro, onde os direitos trabalhistas e as condições de trabalho são temas recorrentes de debate, a pesquisa “O Trabalho e o Brasil”, conduzida pela Vox Populi, revela percepções que desafiam o senso comum. Segundo os dados coletados, uma expressiva parcela de 68% dos trabalhadores do país vê os sindicatos como fundamentais ou extremamente relevantes na proteção dos seus direitos e na melhoria das condições de trabalho. Esse levantamento também demonstra que, para mais de 70% dos entrevistados, o direito de greve é algo que deve ser garantido.
Metodologia da Pesquisa e Reações
A pesquisa, realizada sob a encomenda da CUT e da Fundação Perseu Abramo, contou com o respaldo do Dieese e do Fórum das Centrais Sindicais. O estudo, que escutou presencialmente 3.850 trabalhadores de diversas categorias, como assalariados, autônomos, empreendedores, servidores públicos e trabalhadores de aplicativos, traz uma margem de erro de 1,6 ponto percentual. De acordo com Adriana Marcolino, socióloga e diretora técnica do Dieese, os resultados foram surpreendentes, pois contrariam a visão de que sindicatos não possuem representatividade ou legitimidade. Ela observa que o estudo elucidou como variados segmentos do heterogêneo mercado de trabalho, que inclui celetistas, trabalhadoras domésticas e autônomos, reconhecem a importância dos sindicatos, embora ainda exista a necessidade de uma maior proximidade entre essas entidades e os trabalhadores.
Participação e Engajamento dos Trabalhadores
Entre os trabalhadores, 52% expressam satisfação com a atuação sindical. No entanto, um número significativo de autônomos e empreendedores, historicamente mais afastados dos movimentos sindicais, também manifesta interesse em se filiar a essas organizações. Aproximadamente 49% desse grupo expressam o desejo de aderir a um sindicato, indicando uma potencial mudança no cenário de participação sindical.
Apesar desse interesse, mais da metade dos participantes da pesquisa, 52,4%, afirmam não estar cientes das ações concretas realizadas pelas entidades que os representam. Quando questionados sobre melhorias, os entrevistados enfatizam a necessidade de uma presença mais marcante dos sindicatos nos locais de trabalho, melhor comunicação, e a oferta de cursos de qualificação, com as porcentagens de 49,4%, 37,5%, e 29,6%, respectivamente.
Prioridades e Desafios Futuros
Dentro das prioridades sinalizadas para a ação sindical, os entrevistados destacam a necessidade por melhores salários, geração de bons empregos, saúde e segurança no ambiente de trabalho, redução da jornada de trabalho e combate à discriminação. Esses objetivos refletem uma busca por melhores condições de trabalho e devem influenciar as pautas políticas, especialmente à medida que se aproxima a eleição presidencial de 2026, com temas como o fim da jornada de seis dias para cada um de descanso ganhando destaque.
Além disso, a pesquisa indica que a taxa de sindicalização é de somente 11,4%. Mesmo assim, 14,6% estão decididos a se filiar a um sindicato, enquanto 35,9% consideram essa possibilidade. Entre os autônomos e empreendedores, 49,6% defendem a ideia de contar com um sindicato próprio, apesar das restrições legais que limitam a organização sindical a categorias formais e a profissionais liberais.
O Desafio da Inclusão de Autônomos e Informais
A pesquisa também lança luz sobre a situação dos autônomos e trabalhadores informais, que formam uma significativa parcela, 38%, da força de trabalho do Brasil. Muitos nesse grupo veem o papel do sindicato como crucial e expressam o desejo de sindicalizar-se, mas enfrentam a inexistência de uma organização sindical que os represente diretamente. Adriana Marcolino ressalta o desafio de integrar esses trabalhadores ao movimento sindical, especialmente em um cenário de alta rotatividade e informalidade crescente. A socióloga também aponta para a fragmentação dos trabalhadores em diversas situações, desde terceirizados até trabalhadores informais, o que tem impactado a taxa de sindicalização.
Um recorte do estudo, divulgado anteriormente, revelou que 56% dos que hoje se declaram autônomos e já tiveram carteira de trabalho assinada expressam o desejo de retornar ao regime CLT. Essa tendência indica um possível movimento em direção à formalização e à busca por estabilidade trabalhista.
João Carlos Gomes/ Myphoto Press/ Estadão Conteúdo
Fonte: Repórter Brasil

