O palco do Tork’n Roll recebeu na terça-feira (1/04) o ex-baterista dos Ramones, o lendário Marky Ramone. A apresentação faz parte da Blitzkrieg Tour 2025, que está passando por vários países com o objetivo claro de manter viva a música e o espírito de uma das bandas mais influentes da história do punk rock.
A noite começou com a apresentação de alguns alunos da School of Rock de Curitiba, e bem próximos da pontualidade, não atrasaram o início da atração principal.

Com Marky Ramone no palco, o show foi exatamente o que se espera de alguém que carrega o nome Ramone no currículo: direto ao ponto, rápido, barulhento e com o pé cravado no acelerador do início ao fim. Foram cerca de 35 músicas em pouco mais de uma hora e meia, com muita energia, muita música e pouquíssima conversa — praticamente só o nome da próxima faixa e mais pancada.

Com um público de faixas etárias distintas, o clima era de festa punk, desde senhores que provavelmente viram os Ramones nos anos 80 até adolescentes usando camiseta preta com o famoso logo da banda. Não era só um show, era uma reunião de fãs que sabiam exatamente o que estavam indo ver. E o mais interessante é que, mesmo com o passar das décadas, a estética do punk ainda estava lá: couro, spikes, cabelo colorido, coturnos e muita atitude.
Marky subiu ao palco sem firula, acompanhado por sua banda — que, diga-se de passagem, é muito competente. O vocalista (que não é famoso, mas segura bem a bronca) tem o timbre certo pra carregar os clássicos dos Ramones sem tentar imitar os antigos membros. Ele entrega com respeito e energia, o que basta.
A primeira música já deixou claro que não haveria introduções longas nem enrolação e o público respondeu na hora. Dali em diante, foi uma música atrás da outra, quase sem pausa. “Teenage Lobotomy”, “Do You Wanna Dance?”, “I Don’t Care”, “Commando”, “Gimme Gimme Shock Treatment”… e por aí foi. Quem piscasse perdia uma música. Sinceramente, parei de contar lá pela décima. E isso não é uma crítica, é exatamente o que e todo mundo ali esperava.
Os Ramones sempre tiveram essa proposta: músicas curtas, simples, com três acordes e refrões grudentos. Ao vivo, isso vira uma metralhadora musical. E mesmo que Marky seja o único remanescente da banda original, ele não está ali pra ser uma cópia do passado. Ele apenas segue tocando do jeito que sempre foi, com a mesma batida firme e aquela postura clássica atrás da bateria: concentrado, quase imóvel, mas com a força de um motor que nunca desligou.

Os grandes momentos do show, claro, ficaram por conta dos hinos que todo mundo conhece. “I Wanna Be Sedated” foi uma loucura coletiva. A galera cantou em coro e pulou como se fosse 1980. “Sheena Is a Punk Rocker” teve a mesma reação. Mas o ponto máximo, como era de se esperar, foi o encerramento com “Blitzkrieg Bop”. Quando o vocalista gritou “Hey Ho, Let’s Go!”, o chão do Tork’n Roll quase tremeu. Era impossível ficar parado, mesmo quem já tinha passado dos 50 anos entrou na roda punk ou, pelo menos, levantou os braços e gritou junto.
Um detalhe que chamou a atenção foi o foco absoluto na música. Marky falou muito pouco com o público. Nada de discursos, agradecimentos longos ou interação ensaiada. E, sinceramente, não fez falta. O tipo de fã que vai a um show como esse não está procurando performance visual ou emoção de palco. Querem ouvir as músicas que marcaram suas vidas, da forma mais honesta possível. E foi exatamente isso que entregaram.
Ao longo do show, deu pra perceber também o quanto os Ramones ainda influenciam o rock atual. Os riffs curtos, o tempo acelerado e a linguagem direta continuam ecoando em bandas novas. É difícil pensar em qualquer grupo de punk, hardcore ou mesmo rock alternativo que não tenha pegado algo deles. E ver Marky tocando hoje em dia é quase como ver um capítulo vivo da história da música, só que sem a pompa ou reverência que normalmente acompanha artistas “lendários”. Ele simplesmente sobe no palco e toca, como sempre fez.
Um pouco sobre ele, pra quem não conhece: Marky entrou nos Ramones em 1978, substituindo Tommy Ramone. Ele ficou com a banda por mais de uma década, participou de discos importantes como “Road to Ruin”, “End of the Century”, “Subterranean Jungle”, entre outros, e ajudou a consolidar a sonoridade da banda. Depois da separação dos Ramones em 1996, e com a morte de Joey, Johnny e Dee Dee, Marky passou a ser o último membro vivo da formação mais conhecida. Desde então, tem se dedicado a manter o repertório dos Ramones nos palcos, tocando em turnês pelo mundo com a marca “Marky Ramone’s Blitzkrieg”.

No fim do show, o público saiu satisfeito. Se via muita gente cansada e suada, mas todo mundo com semblante de satisfação. O clima era de missão cumprida. Todos os presentes saíram com a sensação de ter vivido um pedaço importante da história do punk, mesmo que reencenado por uma nova formação. Porque, no fundo, não se tratava só de reviver o passado, mas de reafirmar que aquela energia continua viva.
Para Rafael Furuta: “O show foi excelente. A banda de apoio é muito boa. Em algumas músicas, parecia que era o Joey mesmo cantando. Mas o mais impressionante é a energia do Marky. Com 72 anos, fez um show com mais de 35 músicas, com um pouco ou quase nenhum intervalo entre elas. Deu para ter um gostinho de como era um show dos Ramones no auge. E o mais legal é ver famílias com crianças e adolescentes na plateia. Espero que eles mantenham o legado da banda vivo por muito tempo.”
O Tork’n Roll foi o lugar ideal pra esse tipo de show. A estrutura funcionou bem, o som estava limpo e potente (o que nem sempre acontece em shows punk), e o público ficou bem próximo da banda. Isso ajudou a criar aquele clima mais intimista, quase de porão de Nova York, mesmo que estivéssemos no meio de Curitiba.

Se você nunca viu um show assim, recomenda-se fortemente. Não espere espetáculo visual, pirotecnia ou efeitos especiais. É só música: rápida, crua, simples. Mas com uma força absurda. E ver Marky Ramone ao vivo é entender por que os Ramones nunca saíram de moda. Eles continuam sendo uma referência porque foram verdadeiros. E isso, no rock, vale mais que qualquer outra coisa.
Hey ho, let’s go! A Blitzkrieg passou por Curitiba e deixou fãs exaustos, suados e felizes. Como deve ser.