Importância dos Oceanos na COP30 em Belém
Na recente conclusão da COP30, realizada em Belém, no Pará, os resultados gerais para a crise climática foram considerados modestos. No entanto, um marco significativo foi alcançado em relação ao papel dos oceanos no enfrentamento das mudanças climáticas. Ambientalistas destacam que essa conferência representou um avanço histórico para a integração dos oceanos na agenda climática.
A bióloga brasileira Marinez Scherer, que desempenhou o papel de enviada especial para os mares, afirmou que a centralidade dos oceanos na política climática foi um ponto crucial na conferência. De acordo com Scherer, a importância dos mares foi finalmente reconhecida por líderes mundiais, especialistas e pela sociedade civil como um elemento essencial no combate ao aquecimento global.
Documentos e Iniciativas em Prol dos Oceanos
O reconhecimento da relevância dos oceanos foi formalizado em um dos principais documentos finais da conferência, conhecido como “Mutirão Global”. Este documento, que teve amplo apoio da presidência brasileira da COP30, foi descrito como um método contínuo de mobilização que excede o próprio evento, integrando as ações climáticas de forma abrangente.
Entre as iniciativas relevantes anunciadas durante a conferência, destaca-se a criação da Força-Tarefa Oceânica, uma colaboração entre o Brasil e a França. Essa força-tarefa tem como objetivo estabelecer metas claras de preservação dos mares e já conta com a adesão de 17 nações.
Desafios e Avanços nas Políticas Oceânicas
Os oceanos são cruciais para o controle climático, cobrindo mais de 70% da superfície terrestre e absorvendo cerca de 30% do dióxido de carbono atmosférico. Até a COP30, menos de 1% do financiamento climático global era direcionado a soluções relacionadas a esses ecossistemas vitais, conforme apontado por Scherer. Esse cenário de subfinanciamento motivou esforços significativos para alterar essa realidade durante a conferência.
O evento incluiu intensos debates liderados por Scherer, que expressou satisfação pela formação da força-tarefa e pelo lançamento do Pacote Azul, um plano abrangente de ações envolvendo governos e ONGs, com projeção de receber até R$ 615 bilhões anualmente para promover a saúde dos ecossistemas marinhos.
Eduardo Martinelli, professor de Oceanografia da Universidade Federal do Pará, destacou que a expectativa de integrar o oceano à pauta climática estava crescendo desde a COP27, e que a atuação dos oceanos é fundamental para a regulação do clima, talvez até mais importante que a das florestas tropicais.
A Conexão entre Mar e Floresta
A ONG Oceana Brasil também celebrou a crescente atenção aos oceanos, destacando que os mares finalmente ganharam espaço ao lado das florestas nos debates climáticos. Ademilson Zamboni, liderando a Oceana no Brasil, relatou que o tema dos oceanos teve uma recepção positiva e marcou a conferência como uma inovação.
O comprometimento do governo brasileiro, especialmente através dos discursos do presidente Lula em eventos internacionais, como a conferência de lideranças mundiais e a Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, foi fundamental para essa mudança de foco.
Paralelamente à COP30, eventos foram realizados em Belém para reforçar a relevância dos oceanos na luta contra a crise climática. Durante essas atividades, a Oceana lançou um guia para gestores públicos sobre como adaptar a pesca aos impactos das mudanças climáticas no Brasil, enquanto o Instituto Voz dos Oceanos promoveu eventos na capital paraense.
Marina Corrêa, do WWF-Brasil, observou que a COP30 estabeleceu uma base sólida para futuras discussões entre oceano e clima, projetando um avanço significativo para as próximas conferências sobre o tema.
Reflexões e Expectativas para o Futuro
Nem todos compartilham do otimismo. Alexander Turra, professor da Universidade de São Paulo, considera que os avanços em defesa dos mares durante a COP30 foram limitados e aquém do necessário, ressaltando que o oceano não recebeu o destaque merecido na declaração final da conferência.
A Oceana, porém, vê a inclusão do oceano no texto final como uma vitória significativa. Zamboni destacou essa inclusão como um grande passo, embora reconheça que ainda há muito a ser feito.
O Pacote Azul, uma iniciativa visando aumentar as ações relacionadas aos oceanos, foi elogiado por fomentar a agenda climática, ainda que Turra considere que o volume de recursos prometidos possa ser insuficiente frente à urgência das necessidades ambientais.
Com a COP31 marcada para acontecer parcialmente na Austrália e na Turquia em 2026, e discussões anteriores planejadas para ilhas do Oceano Pacífico, há esperanças de que a atenção às questões oceânicas continue crescendo, como destacou Mariana Andrade do Greenpeace Brasil.
Marinez Scherer, enviada especial para oceanos COP30 (Foto: Conferência dos Oceanos/Divulgação)
Fonte: Repórter Brasil

