Batushka em Curitiba: A Experiência Litúrgica do Black Metal

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A banda polonesa Batushka, conhecida por misturar black metal com liturgia ortodoxa, surgiu em 2015 e ganhou uma grande notoriedade no cenário do metal extremo com seu álbum de estreia, Litourgiya. Mas apesar do seu grande sucesso dentro do gênero, a banda logo enfrentou uma crise interna.

Após 6 anos desde a sua última passagem pelo Brasil com a formação original, o  Batushka retornou ao maior pais da america latina, mas dessa vez com a formação de Krysiuk, realizando uma série de shows, passando por Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Limeira, São Paulo e Belo Horizonte. No show de Curitiba, abertura da missa ficou para as bandas Hokmoth e Paradise in Flames.

Underground do metal Extremo

Hokmoth
Foto: Eugênio Domingos

Iniciando a noite ritualistica em Curitiba ficou em cargo do Hokmoth, banda de black metal formado originalmente em Araucária, cidade da região metropolitana de Curitiba. A banda lançou em 2019 o EP Neophytvs, composto por cinco faixas. O destaque do EP vai para a faixa instrumental “Binamorph, Pt. 1 (Albedo)”, que se destaca pela complexidade melancólica dos arranjos, e para “Qliphotic Meditation”, que impressiona pelas variações rítmicas.

Mesmo sendo a primeira banda da noite, o underground extremo Curitibano chegou em peso para conferir a banda, fazendo um aglomerado na frente do palco e vibrando e gritando após cada música.

Após o show visceral do Hokmoth, foi a vez do Paradise In Flames, banda  de black/death metal formada em 2002 na cidade de Varginha, Minas Gerais. O grupo se destaca até hoje por combinar elementos tradicionais do black metal com influências do death metal, criando um som único e atmosférico

Entre os destaques de sua discografia, está o álbum Devil’s Collection (2019), que consolidou a banda na cena do metal extremo, com um som agressivo e produção refinada. Influenciada por bandas como Behemoth, Dimmu Borgir e Cradle of Filth, Paradise In Flames se diferencia pelo uso de teclados e vocais que variam entre guturais com mistura de vocais líricos, criando uma atmosfera épica e sinistra em suas composições.

Foto: Eugênio Domingos

A missa negra de quinta-feira

O grupo, inicialmente formado por Krzysztof “Derph” Drabikowski e Bartłomiej Krysiuk, se dividiu em 2018 após uma disputa pelo nome da banda. Krysiuk lançou um novo álbum com uma formação diferente, enquanto Drabikowski, que se considera o verdadeiro criador, também lançou sua versão da banda. A divisão gerou confusão entre os fãs, que agora acompanham duas versões distintas de Batushka: uma liderada por Drabikowski e outra por Krysiuk.

Foto: Eugênio Domingos

Seguindo sua temática e objetivo artístico, Batushka iniciou o seu show da mesma forma que se inicia uma missa. Trajados de seus famosos robes, calmamente os integrantes subiram ao palco em suas posições e o show se deu ínicio assim que Krysiuk acendeu a primeira das diversas velas ao som de Yekteniya I, primeira faixa do seu emblemático álbum de estreia Litourgiya.

O palco de um show do Batushka é uma parte essencial da experiência, cuidadosamente projetado para imitar uma cerimônia religiosa ortodoxa, mas com um toque sombrio e profano.

Foto: Eugênio Domingos

O cenário é repleto de elementos que evocam uma liturgia: ícones religiosos, candelabros, incenso e velas que queimam durante toda a apresentação, criando uma atmosfera carregada e espiritual. O uso de iluminação baixa e pontual, predominantemente em tons de vermelho e dourado, contribui para a sensação de estar dentro de uma igreja antiga, mas distorcida por uma aura de escuridão.

Mesmo com clássico Litourgiya, o Batushka liderado por Krysiuk também tocou várias músicas de seus álbuns recentes dessa formação, passando tanto por Hospodi (2019) e MARIA (2022). Apesar da ótima atmosfera e apresentação, um dos grandes destaques da noite se deu justamente ao público, que apesar das músicas serem cantandas em eslavo eclesiástico, muitos ali presentes faziam questão de cantar as músicas da banda, principalmente na clássica Yekteniya III.

Foto: Eugênio Domingos

Mesmo com todas as polêmicas da banda e também dos conflitos dos fãs para ver qual Batushka é o melhor e verdadeiro, a cerimônia encerrou com um sentimento de reverência e respeito, como se todos os presentes tivessem participado de um ritual secreto. A mistura de elementos visuais e musicais, aliados à devoção dos fãs, fez com que essa missa negra em Curitiba fosse uma noite memorável, reforçando o poder de Batushka em criar uma experiência única que transcende um simples show de metal.

Setlist Batushka:

  • Yekteniya I: Ochishcheniye
  • Wieczernia
  • Powieczerje
  • Yekteniya III: Premudrost’
  • Pismo I
  • Polunosznica
  • Utrenia
  • Irmos II
  • Irmos III
  • Yekteniya IV: Milost’
  • Pismo VI
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Eugênio Domingos, o mestre das pautas no Partiu Rolê, guiando as histórias que fazem cada evento brilhar.

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