No universo do metal, poucos nomes ressoam com a mesma força e reverência que o Dream Theater. Fundado em 1985 sob o nome Majesty, os virtuosos John Petrucci (guitarra), John Myung (baixo) e Mike Portnoy (bateria) moldaram o que hoje em dia chamados de Metal Progressivo, combinando o peso do Heavy Metal com um foco extremo na técnica e performances virtuosas. Criando composições complexas e letras que exploram desde a ficção científica até as profundezas da psique humana, a banda se consagrou com álbuns como “Images and Words” (1992), com o hit “Pull Me Under“, e o conceitual “Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory” (1999) solidificaram seu lugar no panteão do metal como uma das bandas mais influentes e técnicas de todos os tempos.
Contudo, a trajetória da banda não ficou livre de problemas. Em 2010, Mike Portnoy, membro fundador e uma das maiores mentes criativas da banda, anunciou sua saída, um golpe que foi muito sentido pelos fãs, com alguns até mesmo deixando de escutar a banda e ir nos shows. Mike Mangini assumiu as baquetas, e a banda continuou sua jornada, lançando álbuns como “A Dramatic Turn of Events” (2011) e o autointitulado “Dream Theater” (2013). Mas a chama da nostalgia e o desejo por um reencontro com a formação clássica sempre pairaram no ar.
Em outubro de 2023, o improvável aconteceu: Mike Portnoy retornou ao Dream Theater, reacendendo a paixão dos fãs e abrindo um novo capítulo na história da banda. O retorno gerou uma enorme expectativa, especialmente para os shows no Brasil.
Em um vídeo descontraído no Instagram, Portnoy anunciou as três primeiras datas da turnê comemorativa de 40 anos: Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Posteriormente, Belo Horizonte e Porto Alegre também foram incluídas no itinerário pela Liberation Music.
Casa cheia e Início nostálgico
Montar um setlist que consiga trazer todo o peso de 40 anos de carreira de uma banda onde em média as músicas vão de 6 a 12 minutos, com algumas passando de 20 minutos é uma tarefa bem complicada. Mas para essa tour em comemoração do quadragésimo aniversário do grupo mais a volta de Portnoy, a banda decidiu fazer um repertório fixo para toda a turnê.
Repertório esse que em nenhum momento vi um fã reclamando, principalmente por iniciar com uma trinca de Metropolis, sendo Metropolis Pt. 1: The Miracle and the Sleeper do álbum Images and Words e Scene Two: I. Overture 1928 seguida de Scene Two: II. Strange Déjà Vu ambas do álbum Metropolis, Pt 2: Secenes from a Memory, que promoveram uma abertura digna do retorno triunfal de Portnoy para a banda.
Após uma “simples” abertura que mostra claramente o motivo dos fãs estarem tão feliz com a volta de Portnoy as baquetas, o show foi brevemente interrompido durante a pausa para a quarta música com um coro que ecoava a Live inteira gritando “ôÔôÔôÔ, o Portnoy Voltou”, fazendo até mesmo o baterista ficar sem jeito e agradecendo o carinho dos fãs, mas pedindo gentilmente para os fãs pararem, pois ainda tem muito show pela frente.
Mantendo o nível da trinca após adoração dos fãs ao deus Portnoy, a banda deu início a The Mirror, única música que a banda tocou do álbum Awake de 1994, seguida pela poderosa e rápida Panic Attack, faixa do saudoso Octavarium. Após mais uma salva de palmas e coro dos fãs agradecendo o retorno de Portnoy a banda, foi dado início a Barstool Warrior, faixa do álbum Distance Over time. Aqui o Dream realmente mostrou que não estava brincando na passagem por todas as eras da banda, pois o álbum não teve participação de Portnoy.
Companheirismo e conexão
Porém, um detalhe que chamou atenção na noite foi uma falha na guitarra de Petrucci no início de Barstool Warrior, onde Portnoy ao perceber a falha, parou imediatamente o show e perguntou se estava tudo certo com Petrucci. Após a falha ser corrigida, Petrucci agradeceu a volta do baterista a banda e disse que é isso mesmo que amigos fazem, um cuida do outro. O interessante é que falha é um ponto extremamente difícil de acontecer nos shows do Dream Theater devido a tamanha rigorosidade da banda com o som e equipamentos.
Após Barstool Warrior, o show chegou na trinca final do seu primeiro ato. Sim, devido ao tamanho do show com um pouco mais de 3 horas se for contar as pausas e trocas de músicas, é mais do que compreensível uma pequena pausa de 15minutos. Mas antes, Labrie interagiu com o público, abrindo espaço para a belíssima e tranquila Hollow Years, música que aqui foi executada sua versão demo com um solo maior tanto de Petrucci (Guitarra) e Rudess (Teclado) seguida por Constant Motion do álbum Systematic Chaos e As I Am do incrível Train of Thought.
Finalizando ambas as músicas, Labrie informou ao público da nossa pequena pausa, essa que foi amplamente elogiada por alguns fãs na pista, pois foi o momento perfeito de ir ao banheiro e aproveitar para pegar algo para beber.
Segunda parte com música nova e som mais alto
Finalizando a pequena pausa de 15min para recuperar a energia após 1h30 de show, ainda tinha muito pela frente. Com a volta de Portnoy a banda entrou em estúdio para a gravação de um novo álbum intitulado de Parasomnia que já tem dois singles liberados, porém dessa vez a banda tocou somente Night Terror, o primeiro single divulgado logo após o retorno de Portnoy. Aqui os fãs foram consagrados com um vídeo bem bacana fazendo alusão todos os álbuns da banda até chegar em Parasomnia.
Apesar de ser uma música nova, o público curitibano se mostrou mais nerd do que os fãs normais da banda, pois assim que a música começou a tocar, muitos fãs presente começaram a cantar e até mesmo pular durante a nova música. Mesmo sendo uma música nova, no momento que você escuta Night Terror, já percebe o retorno de Portnoy e a importância que o músico tem na banda.
Voltando a comemoração de 40 anos da banda, após uma música nova chegou o momento de tocar mais uma clássica, que ficou em cargo de Under a Glass Moon, música que também faz parte do álbum Images and Words de 1992, seguida por This is the Life, baladinha que não fez parte da era de Portnoy, mas foi executada com maestria e com bastante apoio do público. Aqui vale um adendo que após a pausa, o som ficou relativamente mais alto, algo que foi mais perceptível em Vacant e Stream of Consciousness, dueto que se conecta perfeitamente e é perceptível que ambas as músicas foram feitas uma para a outra.
Terminando o bélissimo dueto, chegou uma das partes mais interessantes do show, que foi o momento épico de Octavarium, faixa-título do álbum Octavarium lançado em 2005. Essa faixa foi um dos momentos mais interessantes da noite por possui quase 25 minutos de duração e ser considerado um clássico da banda, clássico esse que não tocavam completo a muitos anos. Como já era de se esperar, a música foi muito bem recebida, com boa parte do público presente cantando sua melodia e fazendo coros durante a música.
O começo do fim com Metropolis
Depois de deixar o público em estase com Octavarium, infelizmente o show já estava no fim, mas vindo de Dream Theater, o fim do show levou quase meia-hora, para ser mais exato, 27 minutos. Assim como no início do show, o final ficou a cargo de duas músicas do álbum Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory, Scene Six: Home e Scene Eight: The Spirit Carries On, onde foi o momento mais bonito da noite, com praticamente a maioria do público cantando o refrão.
A música que fala sobre a vida após a morte e a crença de que o espírito continua existindo após a morte, oferecendo conforto e esperança em meio à perda, transmite uma mensagem de que a morte não é o fim, mas sim uma transição para outra forma de existência.
Finalizando de fato a noite, ficou a cargo da clássica Pull me Under, também do álbum Images And Words, música que até hoje é a mais famosa da banda em quesito de reconhecimento comercial. Apesar de ser um clássico da banda, essa música e algumas mais antigas mostrou que a idade chega para todos.
Mesmo após romper suas cordas vocais por conta de uma intoxicação alimentar a vários anos atrás, James LaBrie ainda é um dos maiores debates dos fãs da banda devido a não conseguir mais alcançar as notas mais altas com sua voz. Apesar das críticas, é inegável que LaBrie melhorou muito ao longo dos anos e de longe essa foi uma das melhores performances após o rompimento de suas cordas vocais.
Um Marco na História do Dream Theater
O show do Dream Theater em Curitiba, na última segunda-feira, foi uma celebração épica dos 40 anos de carreira da banda. Marcado pelo retorno de Mike Portnoy e um setlist diversificado, incluiu clássicos como *Pull Me Under* e a execução completa de *Octavarium*, uma raridade nos últimos anos.
A noite proporcionou uma jornada nostálgica, destacada pela interação com os fãs, uma performance impecável, e momentos de companheirismo entre os integrantes, como na falha da guitarra de Petrucci. A energia do público contribuiu para uma experiência memorável, reafirmando o Dream Theater como ícone do metal progressivo. Mesmo com as limitações vocais de LaBrie, a paixão e resiliência da banda brilharam, transformando o show e a turnê em um marco significativo em sua história.
Setlist Dream Theater Curitiba
Ato I
Prelude
Metropolis Pt. 1: The Miracle and the Sleeper
Act I: Scene Two: I. Overture 1928
Act I: Scene Two: II. Strange Déjà Vu
The Mirror
Panic Attack
Barstool Warrior
Hollow Years
Constant Motion
As I Am
Ato II
Orchestral Overture (Contendo trechos de todos os álbuns do Dream Theater)
Night Terror
Under a Glass Moon
This Is the Life
Vacant
Stream of Consciousness
Octavarium
Encore
There’s No Place Like Home
Act II: Scene Six: Home
Act II: Scene Eight: The Spirit Carries On
Pull Me Under