No turismo de ultraluxo, é possível encontrar viagens de 2 milhões de dólares, e, acredite, esse segmento está em crescimento.
Roteiros de viagem 100% customizados e personalizados viraram regra nas principais agências de viagem.
Os buyouts de pousadas (quando a propriedade é toda fechada/reservada para uma mesma família ou grupo) batem recordes.
A procura por villas não para de crescer, e, cada vez mais, as grandes redes – como Four Seasons ou Mandarin Oriental – entram de cabeça no mercado das residences.
Há mais roteiros de volta ao mundo em jato privado criados por operadoras globais, como a Abercrombie&Kent, ou grandes redes hoteleiras.
Cruzeiros de volta ao mundo esgotam poucas horas após serem lançados – e a demanda por veleiros, barcos privados e iates é a maior da década. Com viagens de até US$ 2 milhões, o novo boom do “ultraluxo” no turismo é indiscutível.
Levantamentos recentes de associações como Virtuoso e Traveller Made/Serandipians mostram que o mercado do “ultraluxo” está mais forte do que nunca neste 2022.
A ILTM Latin America, que aconteceu no começo de maio em São Paulo, também bateu na mesma tecla nos eventos pré-feira.
Enquanto alguns setores do turismo ainda lutam para tentar recuperar parte dos índices pré-pandemia, o chamado ultraluxo não tem conseguido atender tanta demanda em alguns casos.
O novo boom do “ultraluxo” no turismo
Os viajantes mais abastados – do Brasil e do planeta – estão definitivamente otimistas e ansiosos para fazer o quanto antes as viagens e comemorações que acabaram sendo atrasadas pela pandemia.
Para esse seleto grupo de viajantes – que pode gastar algo entre US$ 100,000 e US$ 2 milhões numa viagem – o aumento sem precedentes de preços no setor turístico em geral não assusta. Pelo contrário: estão prontos para gastar e decididos a tornar suas viagens cada vez mais únicas e exclusivas, como talvez uma forma de “compensar o tempo perdido”.
O último relatório de tendências da Virtuoso, rede global especializada em viagens e experiências de luxo, confirma essa tendência: 85% dos entrevistados em janeiro passado garantiram estar “prontos para viajar”. E 86% querem viajar internacionalmente.
A maioria está completamente vacinada e com a dose de reforço, e considera o momento ideal para fazer a viagem dos sonhos.
Segundo consultores da Virtuoso, muitos clientes também se contaminaram na grande onda da ômicron no começo do ano e entraram em contato para planejar sua próxima viagem enquanto ainda estavam em quarentena por causa do Covid-19.
Segundo o relatório, 78% dos consultores viram um aumento considerável nas viagens de comemoração, sobretudo aniversários natalícios e aniversários de casamento. 95% dos consultores entrevistados acreditam que as viagens de comemoração continuarão sendo uma das principais tendências de viagem até o ano que vem.
Especialistas Virtuoso acreditam que 2022 antecipará para muita gente “a viagem da vida” como resultado da demanda reprimida, mesmo com taxas futuras de hotéis aumentando 91% internacionalmente (segundo o mesmo levantamento).
O valor dos agentes e consultores de viagens segue reforçado: segundo a rede, a procura por esse profissional cresceu 50% em 2021.
Exclusividade a toda prova
A procura por aviões particulares, buyouts e fretamentos de navios segue crescendo. É justamente o topo da pirâmide do mercado das viagens de luxo que a Virtuoso e outros especialistas do mercado definem como “ultraluxo”. Eles buscam mais exclusividade e personalização de suas férias do que nunca.
Misty Ewing Belles, vice-presidente de relações públicas globais da Virtuoso, acredita que o movimento começou com a disparada das buscas por villas no começo da pandemia.
A flexibilização de protocolos e os avanços da vacinação não apenas mantiveram o crescimento da demanda pelas villas como impulsionou também a procura por outros serviços de luxo em viagens cada vez mais elaboradas.
Segundo Belles, o segmento do ultraluxo busca o uso exclusivo das ferramentas de uma viagem: transporte privado, acomodações o mais privadas possível e serviços cada vez mais customizados.
Dados da GlobalData mostram, sem surpresa, que o turismo de luxo segue um caminho de recuperação muito mais rápido do que o turismo econômico.
Em levantamento próprio, a empresa constatou que 29% dos entrevistados têm hoje orçamentos para viagens “muito” ou “um pouco maiores” do que eram antes da pandemia.
76% dos entrevistados vêm o interesse por experiências privadas e únicas crescer; 26% deles têm clientes gastando facilmente mais de US$ 100.000 por viagem.
O aumento da receita disponível para indivíduos de alto patrimônio líquido aumenta cada vez mais a demanda por produtos e serviços premium.
Mesmo viajantes de alto padrão que não se encaixam de forma alguma no nicho do tal “ultraluxo” também estão reservando orçamentos cada vez maiores para suas viagens daqui para frente.
“Os ultrarricos estão buscando as viagens grandiosas. Mas acho que não é apenas o 1% do ultraluxo que está fazendo esse movimento; temos aspirantes a viajantes que querem voltar a viajar e que têm hoje, por diferentes motivos, mais dinheiro disponível do que normalmente teriam.”, diz Belles.
O topo da pirâmide
De 2020 para cá, o interesse por transporte privado e estadas exclusivas praticamente “explodiu”, segundo vocabulário usado pelo próprio setor.
Não apenas por serem muito mais confortáveis, mas também por, em uma pandemia, ao menos parecerem muito mais controláveis.
Consultores de viagem e especialistas do setor acreditam que a pandemia tenha trazido um certo senso de “urgência” no turismo, em todos os segmentos. Mas, nos nichos de luxo e ultraluxo, com poder aquisitivo suficiente para tal, as manifestações desta tendência são obviamente muito mais explícitas.
A Virtuoso criou a Virtuoso’s Ultraluxe Community, um grupo de consultores e fornecedores preferenciais focados nesse nicho específico de viagens.
Alguns consultores disseram que, mesmo clientes que estavam mais preocupados com o orçamento de viagem antes da pandemia, hoje estão gastando muito mais com turismo em geral.
Segundo Belles, com a pandemia, as pessoas não apenas reavaliaram suas vidas como também transformaram sua wish list viajante (ou bucket list) em uma verdadeira “to do list” que querem completar assim que possível.
No novo boom do “ultraluxo” no turismo, tanta “urgência” pode ressuscitar os temores do overtourism em tantos destinos. Mas, segundo o levantamento da Virtuoso, podemos ter esperanças de viajantes mais conscientes neste nicho: 82% dos entrevistados disseram que a pandemia os fez querer viajar com mais responsabilidade e 78% consideram importante escolher empresas de viagens que tenham uma política de sustentabilidade consistente e clara.
Fotos: Divulgação/Virtuoso.