Na última sexta-feira (04/04) o Teatro Positivo, em Curitiba, recebeu mais uma vez a dupla Zezé Di Camargo e Luciano com a turnê “Novos Tempos”. Apesar do nome, o show pouco fala do futuro. A proposta, na verdade, é revisitar os sucessos que marcaram a trajetória dos irmãos desde o início da carreira, no começo dos anos 1990. Com músicas conhecidas e um repertório recheado de lembranças, o que se viu foi um público entregue à nostalgia e satisfeito por isso.

A apresentação começou com o teatro lotado. A plateia era bastante diversa. Havia casais mais velhos, fãs da época em que a dupla estourou nacionalmente, mas também pessoas mais jovens, algumas acompanhadas pelos pais. Muitos pareciam já conhecer o formato do show e sabiam o que esperar: uma seleção de músicas que marcaram época, histórias de bastidores e aquele tipo de emoção que só vem com o tempo e a convivência de quem acompanha um artista há mais de 30 anos.
A entrada no palco foi feita de forma simples, sem grandes surpresas ou efeitos especiais. O cenário era composto por telões e uma iluminação bem cuidada, que acompanhava o clima de cada música. Logo de início, a dupla cantou um de seus sucessos mais populares, e o público respondeu cantando junto. Foi assim durante quase todo o show: os artistas conduziam o repertório e a plateia seguia, sem hesitar, reconhecendo cada introdução musical.

Entre os destaques da noite estiveram faixas como “Saudade Bandida”, “Dou a Vida por um Beijo”, “Tarde Demais” e “É o Amor”. Esta última, lançada em 1991, foi a música que projetou Zezé Di Camargo e Luciano nacionalmente e continua sendo um dos maiores sucessos da história do sertanejo romântico. A canção é daquelas que ultrapassam gerações, e em Curitiba não foi diferente, foi um dos momentos mais emocionantes do show, com o teatro inteiro cantando em uníssono.
Durante a apresentação, Zezé conversou com o público várias vezes. Compartilhou lembranças, contou piadas e agradeceu pela presença de todos ressaltando sempre que se sentia em casa em Curitiba, e até desceu no palco para abraçar uma fã de 92 anos que estava na plateia. Luciano, como de costume, foi mais discreto, mas também se mostrou próximo da plateia e exaltando toda sua fé em Deus. A relação entre os dois irmãos, inclusive, parece ter passado por altos e baixos ao longo do tempo, mas no palco o clima foi de parceria e respeito.
A estrutura do show segue o mesmo padrão das apresentações anteriores da turnê “Novos Tempos”. Não há músicas novas no repertório, e isso parece ter sido uma escolha consciente. O foco é a memória afetiva. A ideia é permitir que o público reviva momentos marcantes de suas vidas através da música. O espetáculo não é feito para impressionar tecnicamente ou para apresentar uma nova fase da carreira, mas para lembrar por que a dupla chegou onde chegou.

Um dos momentos que mais chamou atenção foi quando Zezé puxou uma homenagem ao cantor paranaense João Lopes, entoando o verso “Eu não sou um gato de Ipanema, sou bicho do Paraná”. A reação do público foi imediata. Muitos aplaudiram e gritaram em reconhecimento à referência local. O gesto reforçou o cuidado da dupla em se conectar com o público da cidade, mesmo em um show com estrutura já bastante conhecida.
Zezé Di Camargo e Luciano estão em atividade desde 1991. A história da dupla começou no interior de Goiás, e ganhou o Brasil logo no primeiro disco. Ao longo dos anos, foram dezenas de sucessos nas paradas, apresentações em programas de TV, e turnês por todo o país. Nos anos 1990, foram um dos principais nomes do chamado “sertanejo romântico”, movimento que ajudou a modernizar o gênero e abrir caminho para o sertanejo universitário, que surgiria anos depois.
Mesmo após mais de três décadas de carreira, a dupla segue com um público fiel. Isso ficou claro em Curitiba. Ao longo do show, era possível perceber a entrega dos fãs. Alguns cantavam todas as músicas de olhos fechados. Outros filmavam trechos com o celular. Havia também quem preferisse apenas observar, em silêncio, como se cada letra trouxesse de volta uma lembrança específica.

Nos momentos mais lentos, como nas baladas românticas, era comum ver casais de mãos dadas ou trocando olhares. Já nas canções mais animadas, a plateia acompanhava com palmas, e até algumas pessoas se levantaram para dançar discretamente ao lado das cadeiras.
Na reta final, a dupla optou por um formato acústico, mais intimista com o público. Nessa hora Zezé comentou que eles são a dupla brasileira com o maior número de regravações, reforçando o peso da dupla no meio sertanejo.
Para as saideiras, o formato voltou ao original e chamaram o público pra próximo do palco. Muitas pessoas entregaram discos para receber autógrafos, e a dupla não deixou nenhum “LP” sem autografar.

Conversamos com uma fã que estava em seu primeiro show da dupla, a fã Elizete Ribas, 60 anos, e a mesma nos relatou: “Foi um show maravilhoso, Zezé Di Camargo e Luciano, são pessoas normais, simples, interagem com o público com uma simplicidade, um carinho, fazem nos sentirmos como parte de sua família”.
O espetáculo entregou o que prometia: um passeio pela história de Zezé Di Camargo e Luciano, conduzido por eles mesmos, com leveza e emoção. Não foi uma noite de descobertas, mas de reencontros. E, para o público que ocupou cada poltrona do Teatro Positivo, isso pareceu mais do que suficiente.