Ex integrante da banda de rock Pink Floyd, Roger Waters tem 79 anos e é britânico. No dia 08/02, a convite da Rússia, ele falou em vídeo diante do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York.
No discurso afirmou que, apesar de representar mais da metade da humanidade com sua opinião de que o ataque da Rússia à Ucrânia é ilegal, este “Não ocorreu sem provocação.”
Por isso, dirigindo-se a Kiev, o músico disse condenar “Também os provocadores, nos termos mais fortes possíveis, e pediu o fim imediatodos combates: “Presidente Biden, presidente Putin, presidente Zelenski, EUA, Otan, Rússia, todos vocês, por favor, mudem de rumo agora e concordem imediatamente com um cessar-fogo na Ucrânia.”
A Rússia havia convidado o britânico para a reunião – presumivelmente por ele ter criticado no passado o fornecimento de armas à Ucrânia, e, numa entrevista ao jornal alemão Berliner Zeitung, elogiando o presidente russo, Vladimir Putin, por suas decisões “baseadas em consenso”.
Reações a discurso na ONU
A reação do embaixador ucraniano na ONU, Serhiy Kyslytsia, não se fez esperar. Referindo-se à música Another brick in the wall, sucesso mundial do Pink Floyd, disse: “Que triste para seus ex fãs que aceite o papel de outro tijolo no muro, um muro de desinformação e propaganda russa.”
O vice-embaixador dos EUA Richard Mills também empregou ironia sutil em sua resposta ao discurso, ressaltando que as qualidades musicais de Waters são inquestionáveis mas “Suas qualificações para se dirigir a nós como especialista em controle de armas ou questões de segurança europeias me parecem menos plausíveis.”
Essa não é a primeira vez que Waters fala publicamente sobre a guerra na Ucrânia. Em setembro de 2022, acusou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, de “Nacionalismo extremo” e apelou para que o Ocidente suspendesse as entregas de armas ao país sob ataque.
Como resultado, foi proibido de se apresentar em Cracóvia, na Polônia, sendo declarado “Persona non grata” pela administração da cidade.
Alegações de antissemitismo
Na Alemanha, um grupo de associações judaicas e de combate ao antissemitismo pediu o cancelamento de um show de Waters planejado para o fim de maio em Frankfurt.
Em comunicado publicado na última semana, as entidades chamam o músico britânico de “Antissemita e teórico da conspiração”, frisando que ele tem chamado atenção por comentários antissemitas durante eventos.
Além disso, o grupo acusa Waters de defender a discriminação de artistas judeus-israelenses a partir da origem deles e de pressionar músicos que desejam se apresentar em Israel.
O comissário do Estado de Hessen para o combate ao antissemitismo, Uwe Becker, alertara em janeiro que Waters vem se engajando “Com agressividade crescente a favor do movimento de boicote antissemita BDS.”
O Boycott, Divestment and Sanctions (boicote, desinvestimento e sanções) convoca músicos, atletas, empresas e políticos a não investirem ou se apresentarem em Israel.
A encarregada federal alemã da Cultura, Claudia Roth, declarou ao jornal Jüdische Allgemeine que não poderia proibir shows, mas gostaria que os organizadores abrissem mão de promover espetáculos com Waters, “E se esses shows acontecerem de qualquer maneira, que sejam diante de auditórios vazios.”
Roth disse lamentar o desenvolvimento do músico, que, segundo ela, agora se tornou, “Obviamente, um apoiador ativo do BDS, e, além disso, teórico da conspiração.”
Controvérsias no Brasil
Waters vem acumulando polêmicas. Em entrevista à prestigiada revista Rolling Stone em outubro, chegou a afirmar que os relatos de crimes de guerra na Ucrânia são mentirosos e que, apesar de ter usado em seus shows porcos gigantes com a estrela de Davi, só tem problemas com Israel, não com os judeus.
Em setembro, o ex líder do Pink Floyd chamara o então presidente Jair Bolsonaro de “Porco fascista” e declarara apoio ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva durante o evento Brasil da Esperança, promovido pela campanha petista.
Ele dividiu o público em shows no Brasil em 2018, ao incluir no espetáculo o então presidenciável Bolsonaro num painel com nomes de líderes mundiais classificados pelo músico como neofascistas.
Em sua turnê atual, Waters projeta letreiros onde se lê que quem gosta do Pink Floyd mas rejeita sua política deve “ir se f**er (“Fuck off”).
Mais recentemente, os ex companheiros de banda, que aliás se posicionam contra a guerra de agressão russa, também se distanciaram de Waters.
A escritora Polly Samson, esposa do ex colega de banda de Waters David Gilmour, chamou o músico de “antissemita” e “apologista de Putin” em mensagem no Twitter.
Fotos: Getty Images.